quinta-feira, 24 de maio de 2007

o meu dia da mãe

Hoje é o meu dia da mãe. Adivinhem porquê.
Nem sempre fazemos o que queremos da nossa vida, nem sempre o que não queremos se torna, sem esperarmos, a nossa vida.
A Cuca, que faz hoje 20 anos, surpreendeu-me tornando-se na minha vida e numa pessoa que admiro.
Parabéns, filhota-centro-do-meu-coração.
Mesmo não podendo estar contigo hoje, sei que vais fazer tudo o que puderes para te divertires e celebrares este aniversário. Espero que te lembres sempre que o importante é celebrarmos muito todas as coisas.
Eu hoje vou dedicar-me a celebrar-te.

domingo, 20 de maio de 2007

hoje é o dia da tristeza

Hoje é o dia da tristeza. Há imensos dias em que estamos tristes, mas hoje a minha tristeza é maior do que alguma vez o foi. Hoje a minha tristeza vem da minha incapacidade para fazer entender uma escolha simples. É que podemos escolher todos os dias entre andar às voltas com o que está mal ou, muito ajuizadamente, pôr para trás das costas isso e aproveitar o dia: beber um bom café, dar um pequeno passeio ao ar livre e olhar para as pessoas que nos rodeiam e pensar naquilo que gostamos nelas. E hoje a tristeza veio porque não consegui fazer a minha escolha e apenas ficou o que de mau habita nas relações das pessoas.
A escolha do bom e do agradável não é uma fuga. Quando temos consciência e não procuramos a alienação, sabemos que o mau existe e que há coisas erradas na nossa vida. As mais das vezes pouco podemos fazer para emendar o que já foi mal feito. A única saída é seguir em frente e agarrar com as duas mãos o que ainda há de positivo. O que sempre há de positivo.
Hoje eu podia ter feito a minha escolha mas não a consegui levar avante. Não consegui ser suficientemente firme para evitar que as escolhas dos outros inibissem a minha. Por isso surgiu a tristeza, que em si não tem valor nenhum, que é uma espécie de limbo que se assemelha a uma prisão.
Enquanto estamos tristes estamos privados de nós. Estamos reféns de inibições que nos imobilizam num ponto em que não queremos estar. E, no entanto, precisamos de convocar todas as nossas forças para nos libertarmos dessas inibições. É doloroso, quase tanto como a tristeza, mesmo quando entendemos a sua natureza e sabemos que não a devemos manter em nós.
Hoje tenho de reaprender a libertar-me da tristeza. É uma recaída. É preciso recomeçar do zero. É preciso repetir muitas vezes, alto e baixinho, que não queremos manter-nos na tristeza. É preciso arrancá-la do corpo como a uma fera que cai sobre nós e nos rasga a carne as suas garras de impiedade. É preciso sofrer a dor da expulsão para expulsarmos a dor da tristeza.
Infelizes dos que jamais ousam passar por essa dor paralela para extinguir a primeira.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

um abraço para a vida


Estimo esta fotografia, tirada com a minha avó Amélia em Vila Paiva de Andrade, na Gorongosa, aí pelo final do meu primeiro ano de vida. O meu ar sorridente fazia, com certeza, parte daquele braço esquerdo que me segurava e me protegia. Dezasseis anos depois chegou a minha vez de a apoiar com o meu braço, até isso não ser suficiente para a proteger. Não fui capaz de ir ao seu funeral porque queria ficar sozinha com essa estranha dor de se perder alguém a quem se quer bem. Só que, afinal, nunca fiquei sozinha, porque a partir daí não houve nenhuma altura da minha vida em que, precisando de apoio e conforto, não me lembrasse de uma ou de outra forma dela, acabando por me sentir reconfortada e animada só por isso. Se calhar é por essa razão que estimo tanto esta fotografia, que me faz lembrar o abraço seguro e reconfortante da minha avó.