domingo, 20 de abril de 2008

onde está a pobreza, Maria?

Pelas conversas de três dias, Maria Cavaco Silva concluiu que a pobreza na Madeira "não tem significado. Há uma nova realidade muito semelhante ao que acontece no Continente (…) Mas situações de miséria, miséria total… e eu tive a grande preocupação em perguntar isso, a Segurança Social tem a situação totalmente levantada, as pessoas trabalham em rede, estão muito bem articuladas", reiterou. A CDU deixou um apelo ao Presidente da República para que a Madeira integrasse um roteiro presidencial para a inclusão. "Foi a ele, não a mim. Se ele vier, eu venho logo", disse. (DN, 20-04-2008)

Não deixa de me desconcertar a facilidade com que figuras públicas produzem enormidades como estas. E não há quem as contradiga, claro, porque os jornalistas em Portugal são, cada vez mais, relatores de inaugurações e festinhas de tapas e perfumes caros.

Está na crista da onda, a senhora, a das elites governantes mundiais que, depois de ignorarem durante mais de duas décadas os relatórios da ONU e de outras entidades, alertando para a inevitável "subida" dos pobres para o Norte, para os países mais ricos, vêem agora as suas economias em franca derrapagem com a entrada maciça dos imigrantes fugidos à pobreza "sem significado".

Quiseram aproveitar a mão-de-obra barata e submissa para fazer crescer os seus negócios? Olha que bela ideia... Só que se esqueceram que quem não dá, não recebe. Pagam pouco, desceram o nível salarial dos imigrantes e, consequentemente, dos cidadãos nacionais e, agora, com o poder de compra muitíssimo abaixo do que estavam habituados, quem é que faz andar o negócio? Ai, Jesus, que vem aí a crise, a nova ordem económica e social, as mudanças há tanto tempo preconizadas...

Governar é prever, não é? Para quem, afinal?

Cara senhora Maria Cavaco Silva: vou começar a coleccionar fotos da pobreza na Madeira, junto-as todas num belo quadro pop à maneira das latinhas Campbel dos Warhol deste mundo (eu sei que a senhora se arroga o gosto pela Arte) e envio-lho para se entreter como fazem as crianças com os puzzles do Wally.

O secretário regional dos Assuntos Sociais da Madeira afirmou esta terça-feira que 18 por cento da população nesta Região vive com rendimentos iguais ou inferiores ao salário mínimo regional, dos quais 4,7 estão abaixo do limiar da pobreza.

Francisco Jardim Ramos falava na abertura de um colóquio sobre «Práticas de Intervenção Social» que no Funchal.

O governante referiu que os 4,7 por cento vivem com menos de 360 euros por mês e que o Centro Regional da Segurança Social «tem, neste momento, 7.885 beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI)».

Fonte: Agência Lusa (21 de Novembro de 2007)