terça-feira, 19 de abril de 2011

rios e espelhos

Foto MMFerreira
Toda a vida devia ver-se assim, como um rio, sempre diferente, sempre em movimento, a espelhar as coisas de uma forma que não é verdadeiramente a delas, mas que marca definitivamente a nossa forma de as olhar. Se ao menos fossemos capazes de nos lembrar sempre disso...

sábado, 16 de abril de 2011

a mão do caos e da ordem

Foto MMFerreira
 Os artistas não nascem para ser bem educados, portar-se bem ou ser politicamente correctos. Não há nada de verdadeiro num artista que não gere à sua volta o caos para depois reconstruir o universo segundo a sua visão. A ordem só nasce depois de uma profunda transformação, de uma recusa radical em se trilhar caminhos já conhecidos. Para que serviriam os artistas se, conformadamente, se entretivessem apenas a juntar cores e formas bonitas, só para agradar e sem preocupação de inovar?
Nascer com algo dentro que lhes permite ver além do óbvio, que lhes revolta as entranhas e dói de uma forma que jamais lhes consente dizer apenas amen, e ser um veículo de uma qualquer força que os obriga a derrubar tudo, usando se necessário o próprio corpo, é um dom ou uma maldição impossível de domar e de manter paredes meias com as convenções.
Qual é a utilidade de um artista que aceita vergar-se à ordenada realidade alheia em vez de, honrando o seu destino, romper o chão como uma lâmina gigante, rasgando tudo à sua passagem? Pois se é exactamente aí que está a justificação da sua existência...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

11 de Abril de 1974

Baía de Inhambane (Foto: MMFerreira)
Chegámos a Inhambane a 11 de Abril de 1974, vindos de Manica, junto à fronteira com o actual Zimbabué. No dia seguinte começámos a ouvir, na BBC, notícias de que ia haver um golpe de estado em Portugal. Sentávamos-nos à noite nos degraus da entrada à espera do desenrolar dos acontecimentos. O alerta chegou catorze dias depois, alguns minutos passados da meia-noite, da casa do lado. Saímos todos para a rua. Os vizinhos fizeram o mesmo e juntaram-se algumas pessoas no passeio da avenida, em frente às casas. Também houve quem trancasse portas e janelas nessa noite.

domingo, 10 de abril de 2011

do dia da lua ao dia do sol

A propósito do post abaixo, adoro segundas-feiras, as conversas com alguns amigos acabaram por conduzir ao significado dos nomes dos dias da semana, que correspondem afinal aos seus regentes astrológicos, se possível ordenados como na figura acima, uma estrela de David.
Em português a coisa escapa-nos, pela conversão dos respectivos nomes nos dias de feira. Curioso foi saber que os vizinhos espanhóis, que a dada altura também seguiam o mesmo sistema que nós, depois das invasões napoleónicas voltaram a usar a antiga nomenclatura: lunes, martes, miércoles, jueves, viernes, sabado e domingo.
Segunda será então o Dia da Lua (feminino), terça o de Marte , quarta o de Mercúrio (que rege as comunicações, o comércio e os ladrões, dia tradicional das feiras regionais entre nós), quinta de Júpiter (e da boa fortuna), sexta de Vénus (antigamente, o dia dos homens irem às prostitutas), sábado de Saturno (ou descanso, pausa - em inglês, o Saturn Day que deu origem ao Saturday) e domingo, Dia do Sol.
Portanto, podenos imaginar, com toda a facilidade, reuniões da tupperware e das neodeusas à segunda; declarações de guerra ou o fêquêpê a jogar, às terças; saldos de garagem e comunicações importantes, a par com grandes roubalheiras, à quarta; a quinta como um dia bom para tudo o que requeira sorte; sexta para o enrolanço íntimo; sábado para descansar de todos os excessos; e domingo para o sexo forte confraternizar.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

desastre comunicativo



Em tempo de crise, o que levará três empresas como a Sapo, a Sagres e a Super Bock a produzir anúncios como estes, em que o adjetivo machista é obviamente escasso para classificar a pobreza de chavões que afastam pelo menos 50 por cento do público alvo?



Este, da Sagres, além do infeliz machismo, insulta as mulheres, retratando-as como meras figurantes, cuja maior alegria é mostrar as mamas aos rapazinhos bebedores e egocentrados (somos nós...). Ainda por cima, tem como figurantes de "topo" o Figo e o Manzana, que assim entram para a história como quaisquer outras cavalgaduras machistas, capazes de todas as tristes figuras em público para ganhar uns euros.



A Sagres Mini vai ainda mais longe, depois de pôr os rapazinhos aos abraços (como se "eles" andassem para aí no apalpanço público sem medo das consequências), recorrendo ao preconceito das "primas fáceis" para a graçola de fecho do anúncio.



A Super Bock, no seu anúncio de minis a "puxar pela amizade", faz com que os três "meninos" se deixem guiar por garrafas de cerveja que se empinam, assim como qualquer pénis a precisar de desabafar, e corram uns para os outros. Não deixa de ser curioso...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

hostilidade doméstica

Tenho um electrodoméstico hostil em casa, disposto a obrigar-me a tomar duches frios só porque não descubro o istapor do botão de reset do sensor de acumulação de gases. Como é que uma coisa tão importante pode estar camuflada no topo de um electrodoméstico mudo e sem manual de instruções? Isto é mesmo coisa de homens. Se fosse uma mulher a incluir um botão desses,era vermelho berrante e ficava logo à frente do nariz. Assim, vou ter de chamar o vizinho e explicar-lhe que tenho uma crise doméstica a reclamar atenção masculina. Tudo isto porque ainda não vendem caldeiras cor-de-rosa, às flores e com botões de reset em locais de acesso óbvio. Raios partam os electrodomésticos com a mania de que também são machos...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

adoro segundas-feiras

Sei que devia odiar as segundas-feiras, como fazem a maioria das pessoas encerradas nas suas vidas que não talharam à sua medida. Em vez disso, adoro segundas-feiras e aquela implícita noção de que começa tudo outra vez. Por pior que tenha corrido a semana anterior ou o fim-de-semana.
(Devia estar a escrever sem hífens, segundo o contestado acordo ortográfico, mas ainda não me apetece. Acabarei por chegar lá, a força de conveniências várias, mas ainda não me apetece mesmo.)