quinta-feira, 21 de julho de 2016

notícias


Não há como iludir a saudade dos tempos em que era possível pedir um café matinal e folhear os jornais com alguma avidez pelas notícias do dia. Faz falta a ingenuidade que permitia creditar que toda a informação era importante e que o serviço do jornalismo era de uma imensa utilidade pública.
Saudade também da figura do jornalista que acreditava no seu dever de contar histórias que a todos interessava ler, comentar, discutir. Numa altura em que a necessidade de saber o que se passava acordava com o pequeno-almoço e era uma busca, Em vez da cascata impositiva de textos preparados para moldar opiniões e modos de vida.
É impossível não ter saudades da credibilidade dessas pessoas que trabalhavam sem horas para transmitir notícias prementes, em oposição aos copistas cansados que agora não têm horas nem como discriminar o certo e o errado dos textos automáticos com que preenchem os programas de edição.
O trabalho é mau, a paga é miserável, as cabeças ocupadas com a sobrevivência e as vontades constantemente violadas pelo espectro do desemprego se não houver uma cega obediência à ditadura das empresas de comunicação.
Como é que gente com vocação para explorar as novidades intermináveis de um mundo com uma crescente tendência para se revelar chega a este nível de submissão inaceitável? Como é que alguém apaixonado pela necessidade de escrever e comunicar se deixa enterrar para sempre no lodo dos cenários dantescos de uma sociedade submetida à escravização?
Quando e como é que a investigação se substituiu pela consulta de obscuras fontes online e pedidos por email com respostas sancionadas por autoridades sem nome ou rosto?
O lápis azul era uma brincadeira de crianças em comparação a esta nuvem (cloud?) de controladores de informação. 
E, no entanto, há quem ainda acredite que faz um bom trabalho e que pensa livremente quando se exprime em notícias, artigos e crónicas redondinhas, que nunca partem um prato, nem serão jamais motivo para pôr em perigo o parco, mas certinho, salário. 
É o triunfo do espírito do funcionário público de antanho, exportado com um tremendo êxito para todas as áreas do trabalho, imbatível no seu objectivo de sujeição de toda a humanidade, ou falta dela.