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domingo, 15 de novembro de 2015

(des)vantagens do terror

"Guernica" - Pablo Picasso

A pergunta necessária é: quem beneficia com o terror? A resposta lógica dificilmente será a do extremista perseguido e abatido pela polícia, por forças especiais em grutas miseráveis e isoladas, ou por drones comandados por satélite. Nem sequer os alegados estrategas e financiadores apanhados na controladíssima rede fiscal e bancária do planeta.
Portanto, quem beneficia realmente com a propaganda do terror. Serão extremistas, sim, mas os que têm em mente o controlo absoluto de pessoas e bens, esses em cuja ilusão o poder é uma propriedade muito acima do que o seu corpo e a sua vida alguma vez poderão gozar.
O cidadão comum é apanhado na rede do medo induzido, que o fará concordar com as medidas extraordinárias de uma restrição cada vez maior das suas liberdades, em nome de uma guerra santa que não é sua, mas de quem apenas deseja acumular mais poder e riqueza.
As guerras nunca foram santas, até porque as duas palavras, em perfeita lógica, se contradizem. Ou se tem uma guerra, ou se tem a santidade. E, como já dizia Giordano Bruno, a batalha entre a luz e a escuridão tem um desfecho lógico e inevitável, pois a luz acabará sempre com a escuridão, sendo a contrária impossível.
Os imperadores do poder e do terror sonham, por isso, com uma glória muito aquém das suas possibilidades. O que fazem tem instantes contados, mesmo que a sua crença contrarie as leis fundamentais do universo.
Graças aos extraordinários meios de comunicação que lhes proporciona a tecnologia, a sua propaganda chega à maioria esmagadora dos habitantes do planeta. A grande ópera mundial da tragédia está sempre disponível e a ser alimentada. O que pode ser mais importante do que um grande perigo, um alerta internacional, um acidente de proporções gigantescas?
A consciência de que há vida além da tragédia aparece ofuscada. Mas é uma chama que não se apaga. Enquanto estamos vivos podemos sempre recuperá-la e restabelecer a luz e a lógica das nossas propostas.
Os grandes senhores, como a escuridão, têm instantes contados e, depois deles, a vida segue. A ópera deixa cair o pano e podemos regressar a casa para o sossego das nossas rotinas.
Mais ainda: há um instante também para o terror atingir o seu ponto máximo e provocar uma reacção de sentido inverso em cada um de nós. O excesso de propaganda acelera todos os dias esse sábio mecanismo de defesa em todos os nós.
Há vida além do terror e todos nós o sabemos. O momento em que assumimos isso conscientemente é que difere um pouquinho de pessoa para pessoa. Mas vamos sempre a tempo.



domingo, 18 de outubro de 2015

inocência




A memória é um fardo que limita as nossas experiências. Aprendemos e acumulamos memórias que nos ditam, a maior parte do tempo, fronteiras que não devemos ultrapassar. A memória está no passado, onde passamos a maior parte da nossa vida, e quando queremos fugir disso projectamos um futuro que se baseia na nossa aprendizagem. 
Esse futuro, graças à nossa memória, é sempre limitado pela nossa experiência e, portanto, desalentador.
O momento presente não é vivido por falta de inocência. Não somos capazes de ver além do nosso passado e do nosso futuro, sempre balizado pelo minúsculo denominador comum da memória.
Tudo está em aberto e as possibilidades são ilimitadas se deixarmos de lado a pequena experiência do que aprendemos.
A inocência, a liberdade de não nos apoiarmos apenas em memórias, é o encantamento, a paixão e a força de começar do zero, de nos permitem novas experiências.
O apego ao passado acumulado na nossa cabeça tolhe-nos e aprisiona-nos num mundinho limitado e sem interesse.
Apesar do cansaço dessa forma de entender a vida, poucas vezes nos concedemos a liberdade de esquecer de tudo e viver o momento presente, sem afunilar as nossas hipóteses ao já vivido.
A memória não é uma coisa boa quando queremos mudar alguma coisa.
O amor, a empatia, remetem-nos à nossa inocência original. Quando se dão, vemos tudo com novos olhos, acreditamos, nada mais tem importância. A emoção que sentimos é suficiente para pormos de parte todas as memórias, todos os avisos à navegação. Nada mais importa senão o sentimento de que tudo é possível.
Porque amamos e isso anula todas as memórias do que nos faz desconfiar, do que correu mal no passado, dos lugares-comuns que nos travam constantemente.
Amemos portanto o momento em que estamos, com a inocência de um recém-nascido, sem experiências limitadoras, sem aprendizagens castrantes.


terça-feira, 13 de outubro de 2015

amigos

friends, by rumoresdenuvens/maritamorenoferreira - digital painting
Amigos são a nossa terra natal. Fazem parte da solidez das nossas convicções, emoções e certezas. Mesmo quando não estão próximos, nunca deixam o espaço mental que habitamos. Não precisam de ser como nós, nem de concordar connosco em tudo. Existem apenas e não desaparecem. Às vezes nem são próximos, nem muito conhecidos. Mas fazem parte da muralha em que nos apoiamos.



sexta-feira, 21 de agosto de 2015

saltos no escuro

"Vertigem" de Fabio Giampietro

Careço de alguma coisa que não está às claras por aí, que não é óbvia, nem específica. Que me impele em direcções contrárias a todo o bom senso, a toda a certeza. É uma vertigem, uma ansiedade que troca as voltas a qualquer plano anteriormente gizado. 
Isso torna-me previsível, nas palavras de quem se incomoda com as constantes guinadas dos meus impulsos, vistos pelos olhos de quem gosta de se ater a caminhos usados e descobre a previsibilidade no meu imprevisível. 
Na verdade, é a busca do imprevisível que me captura e me afasta das tramas calculáveis. O apelo incontrolado de todas as outras possibilidades ainda por criar é, cada vez mais, o meu motto
Esvaziado de perigo, surge em intensidade crescente num mundo em que os modelos previsíveis esgotaram há muito a capacidade de nos encantar. Os modelos de pensamento comuns têm o efeito de multiplicar a infecção do tédio e do desânimo.
A tristeza não é um caminho, mas um sinal. De que temos de perseguir essa inclinação para outras dimensões que não nos exponham a mortes prematuras.
Careço pois do que não está por aí e que apenas depende de mim para ser criado. E é nessa vertigem desconhecida, nessa inclinação para me lançar no que ainda não existe que se desenha o alargar da minha experiência.
Prefiro um salto no escuro e na turbulência ao sufoco de limites a que se associa absurdamente a segurança, pois a falta de ar e de tudo não é um conceito de vida nem de felicidade. Nem que se teime em transmitir como bom para os outros.


sábado, 7 de fevereiro de 2015

os Peter Pan e os maus argumentistas

Greek Finance Minister Yanis Varoufakis, speaks on his phone during the vote for the president of Greece’s parliament in Athens. Photograph: Petros Giannakouris/AP
As portuguesas votariam em massa num Varoufakis, sim senhores. Votavam na careca, na ausência de gravata, na roupa casual, no sorriso sempre bem disposto. Votariam nele até começar a usar óculos, fatos cinzentos, gravatas estúpidas e até abandonarem a crença de que tudo pode ser diferente, assim o queiramos acreditar.
O Syriza pode seguir o mesmo caminho que os outros, pode ficar enterrado no poder muito maior do que a vontade local, mas também pode gabar-se de ter ressuscitado a esperança e a fé de quantos querem acreditar que tudo pode ser diferente. Os seus dirigentes-Peter Pan estão a encantar os pobres e oprimidos, os que ainda anseiam sonhar e não se vergar aos entediantes interesses financeiros alheios.
Enquanto os gregos sonham e esperam que um milagre se abata sobre as suas rebeldes cabeças, os portugueses asistem, impávidos, à esperteza suicida de políticos, bancos e empresas que sobem preços, despedem, manietam os cidadãos e, com ar de heróis de BD nonsense, declaram que estão a endireitar a vida do País.
Porque todo o acto é voluntário, mesmo se inconsciente, acredito que os cidadãos lusos têm em mente uma espécie de solução final, não de campos de extermínio, mas de deixar o caminho livre a quem tão bem se extermina por si só. Porque no final de todos os impostos e novas regras hitlerianas de uma economia que se tornou pirata e corsária contra si própria, com todos os seus alucinados anoezinhos da engenharia financeira a correr todos para o mesmo lado, os portugueses estão preparados para assistir ao fim do mundo com uma sandes de atum e um copinho de água da companhia tirada da torneira de uma repartição pública.
A escolha de capítulos a assistir é magnânima: bancos a chorar as centenas de milhares de casas vazias subtraídas às famílias, empresas cheias de intenções de produção sem consumidores à vista, governantes com polícias de todo o tipo à espera de cair sobre cidadãos que nem sequer têm como quebrar a lei.
É o cerco virado para si próprio, tropas de assalto preparadas para se abater sobre coisa nenhuma, pois não resta o que roubar, apreender, confiscar.
Cabboum!, diria o último quadrinho da BD nonsense, e: The End!
Há gente mesmo incapaz até de criar bons argumentos...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

apologia: qualidade de vida

Sistema informático de senhas do Centro de Saúde de Cascais
Na semana a seguir ao Natal uma alergia nos olhos da minha mãe fez-me ligar para o número da Saúde 24, um serviço que funciona bastante bem e nos encaminha criteriosamente para os serviços médicos mais adequados a cada caso. O Centro de Saúde de Cascais foi o indicado, na ocasião.
Lá chegadas, a primeira imagem foi a que se reproduz acima, com o maravilhoso aparato tecnológico das senhas de atendimento engalanado com cordel, rolo de senhas e folhinhas coladas a fita-cola, uma delas escrupulosamente escrevinhada à mão. (E reparem nos fios à direita, enrolados e à mão de semear, como convém em termos de segurança...)
As pessoas chegadas ao balcão, pois não eram só as senhas apenas que não funcionavam. O sistema informático em baixo, incapaz de receber os faxes do Saúde 24; nem os telefonemas se aguentavam. Médicos não havia, à excepção dos que se passeavam à espera de casos específicos, imagina-se, uma vez que para os casos como os da minha mãe e de outros, não havia. Estavam na hora do almoço alguns, enquanto os outros não se sabia se atenderiam.
As funcionárias, à falta de argumentos, repetiam incessantemente o que podiam fazer, que era explicar que não havia atendimento, pelo menos até chegarem médicos ou qualquer milagre caído do céu. Ao pedido do livro de reclamações reagiram defensivamente, como se a culpa fosse sua. Mas não era e a queixa foi feita, mesmo com pouca confiança nos resultados que daí podem advir. Se não se faz é o mesmo que concordar que tudo fique na mesma e isso é, no mínimo, incoerente e fútil.
Novo telefonema para a Saúde 24 remeteu-nos para as urgências do Hospital de Cascais que, como é sabido, não tem urgência de oftalmologia. Daí, com alguma sorte, encaminhar-nos-iam para as urgências oftalmológicas do Hospital Egas Moniz e, se não tivéssemos mesmo sorte, repetir o processo para as urgências do Hospital de Santa Maria.
Resolvemos não arriscar e recorremos à CUF, onde ficámos três horas, como mais umas dezenas largas de pessoas, também elas fugidas de outras inexistentes soluções. Lembrei-me dos tempos idos do pós 25 de Abril, em que nem a desorganização das infra-estruturas básicas obrigavam a condições tão desesperantes.
Agora, com tanto glamour e tanta festa, tanto prémio e tanta comemoração, tanto artigo elogioso, Cascais, o concelho da riqueza e da qualidade de vida, não tem um centro de saúde operacional, nem um serviço de urgências que cubra a oftalmologia ou outras especialidades que assegurem reais situações de necessidade.
E isso é que é pobreza, porque ela se mede, não pela quantidade de pessoas de baixos ou inexistentes rendimentos, mas pela incapacidade de administrar e bem gerir o património comum e público. Apesar das subidas constantes de taxas e impostos municipais, dos discursos floreados e da propaganda das instituições. 
Igual sinal de pobreza é investir insanamente no marketing político e empresarial sem ajuizar os resultados da comparação natural que o cidadão comum faz entre o que lhe tentam impingir e as suas carências reais. A consciência de todos evolui e é sinal de escassez intelectual acreditar que só a propaganda vai resultar no apaziguamento das incongruências e das assimetrias abismais que se sentem a todo o instante. 
No final, a luz triunfa sempre, uma vez que a sombra é impossível sem ela e a contrária é, simplesmente, impossível.



segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

tudo sobre M.O.M.


Crises, desastres, ameaças, terror, políticos, poder. Tudo M.O.M. Ou seja, Mentira, Ocultação, Manipulação. É uma realidade de que estamos todos cada vez mais cientes. E não é o fim do mundo, nem especialmente desesperante.
Porque, mais importante que M.O.M., é uma pequena e consistente ideia: espírito é pensamento. E espírito é o que permanece, além da vida e das suas agruras e outros passageiros males contra os quais podemos usar o pensamento/espírito, ou a fonte de todas as coisas.
Porque todos nós somos M.O.M., não apenas os maus. Aliás, qualidades boas e más são o uso que entendemos dar a cada coisa em que pensamos. Ou seja, somos nós e apenas nós os agentes do M.O.M. Escolhemos a cada instante atribuir qualidades específicas a tudo o que nos rodeia, segundo os preconceitos, ou ideias prévias que consideramos serem inerentes a isto ou àquilo.
É claro que alguns agentes M.O.M. fomentam esses preconceitos ou ideias pré-definidas do que as coisas são, sobretudo se querem que acreditemos em crises, desastres, ameaças e terrores. O medo, julgam os M.O.M., é uma fonte de poder. Com medo, fazemos tudo o que nos dizem para fazer.
Por isso se criam guetos, minorias, grupos religiosos e outras gavetinhas cujo único propósito é distrair-nos e desviar-nos da verdadeira origem ou fonte do poder: o pensamento, o espírito ou o que quer que queiram chamar à matéria-prima em que de facto consiste a nossa natureza.
Imaginem as coisas que poderíamos fazer se não existissem M.O.M. a atulhar-nos a vista com problemas e apocalipses diários, prementes e, aparentemente, inevitáveis.
Sem os M.O.M., o pensamento é livre, assim como a sua expressão. Ou a sua materialização nas nossas vidas. Seria completamente M.A.M. (Maravilha Atrás de Maravilha). Sem a rede de complicações que nos impigem diariamente, o pensamento ocupar-se-ia exclusivamente do que lhe interessa: moldar as nossas vidas sem medo, sem interferências, sem ruído entre pensamentos e pensamentos.
Os M.O.M são como os filtros de um fogão, entupidos de gordura e de nojos. É preciso mantê-los limpos para se continuar a viver sem os ascos que provocam.
Entendendo os M.O.M., que não podemos alterar por terem origem nos pensamentos dos outros, resta-nos o óbvio: alterar o que pensamos e levar o nosso espírito para longe dos filtros sujos. Compreender que a vida é possível sem a escolha do pensamento oleoso que insiste em nos fazer escorregar e cair. Não somos só M.O.M., mas isso também está na nossa cabeça e distrai-nos de todos os nossos objectivos.
Pensar com mais simplicidade e aceitar que temos essa escolha é a melhor forma de usar a nossa liberdade e escolher a experiência que desejamos. Sejamos isso também.