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domingo, 25 de abril de 2021

abril justo

 

"Abril Justo" by MMF

Devíamos estar todos sentados na relva, num parque, a sentir uma brisa calma e a fruir os benefícios da Revolução de Abril. A navegar suavemente nas benevolências da democracia e da justiça para todos. E a sentirmo-nos felizes como quando realizamos uma paixão.
Em vez disso angustiamo-nos com a possibilidade de alguns fazerem mau uso da liberdade e, à boa maneira dos porcos triunfantes, aproveitarem para reivindicar a razão da força para os seus desejos menos idílicos.
Em defesa dos factos, a escolha e a capacidade de alterar a realidade a que agora assistimos como um desfecho possível e indesejável, é a mesma que permitiu Abril de 74 e a mudança significativa nas nossas vidas desde então.
O sistema é justo e funciona para qualquer lado. Os sonhadores devem contemplar simplesmente a possibilidade de agir bastante mais em prol da manutenção das suas adoradas utopias. Sonhos vigilantes e concretizados no dia-a-dia deixam menos espaço a pesadelos totalitários.
Ter por garantida a felicidade é não entender nada da natureza das coisas. É como não abrir o guarda-chuva durante as primeiras gotas da tempestade.
Este mundo é um calvário de trabalhos e é preciso aprender a gozar as alegrias da participação activa nos sonhos. Acabar o dia com a satisfação de o ter passado a depositar mais um tijolo na fundação certa é a garantia de que o amanhã nunca nos parecerá desanimador.
Viva Abril e a sua justiça.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

ora no cravo, ora na revolução


Nem só de vinte e cincos consta o mês de Abril. Os números têm uma magia própria que nunca se esgota. Parece que fazem de propósito, a organizarem-se em padrões que se multiplicam em demonstrações singulares de revelações e significados.
O onze, por exemplo, que é um número muito elegante, marcou a chegada da minha família à Terra da Boa Gente, na costa do Índico, tão palmilhada por navegadores portugueses e de outras nacionalidades.
Acontece que nesse mesmo dia, à noite, se ouviram na rádio (BBC) rumores de que se preparava um golpe de Estado em Portugal. Logo ali a minha mãe decidiu que não se desfaziam as malas todas e até se saber o que se ia passar.
Acabou por se dar o 25 de Abril, a que assistimos com a ajuda dos relatos radiofónicos. Mais a prisão dos agentes da PIDE/DGS, o crescimento do cabelo e da barba dos representantes do MFA, a agitação popular, as primeiras campanhas políticas com boa gente da terra, a entrada dos militares da Frelimo, o pavor do 7 de Setembro e outras vicissitudes.
Tudo culminaria de novo a 11, desta vez em Novembro, dia de São Martinho, com a chegada a Lisboa para assistir ao PREC.
O 11 de Abril também é notável por ter sido estreia, em 1727, da Paixão segundo São Mateus, de Bach, da fundação da Organização Internacional do Trabalho, em 1919, e da entrada em vigor da Constituição Portuguesa de 1933 que deu início ao Estado Novo. 
Em 1970 é o dia do lançamento da Apollo 13 e, em 1976, do computador pessoal Apple I. Foi também o dia em que Julian Assange foi preso, em 2019, na embaixada equatoriana de Londres. O General António de Spínola nasceu a 11 de Abril de 1910.
A 25 de Abril de 1972 Claude Joseph Rouget de Lisle compôs A Marselhesa, o hino nacional francês. No mesmo dia, em 1976, entrou em vigor a Constituição Portuguesa que consagrou a democracia em Portugal. Era o dia de aniversário de Ella Fitzgerald (1917) e de Uderzo (1927), o desenhador de Astérix, de Al Pacino (1940), de Manuel Freire (1942) e de Mário Laginha (1960), entre outros.
Se nos dedicássemos à construção de um mapa que assinalasse todas as coincidências entre os dias de Abril e as suas efemérides, com certeza desvendaríamos um padrão fantástico e repleto de surpresas. Podíamos acrescentar mil e uma variantes e multiplicar infinitamente as hipóteses e as conclusões.
O importante, no entanto, é que Abril em Portugal não é um mês qualquer. Nem as suas mil águas, nem as muitas vozes dos seus detractores conseguem diluir o significado que teve e que mantém para os portugueses. E para outros também. De dia 1 a dia 30, das mentiras às revoluções, há-de cantar-se sempre, de uma ou de outra forma. Uma ora no cravo, ora na revolução.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

cravos da noite

"26 de Abril de 2019" by MMF
Pronto, acabou o dia da liberdade e podemos, muito tranquilamente, regressar à noite medieval de amplos abusos em que parecemos mergulhados. Ou não. Ao fim de quarenta e cinco anos, muita coisa muda na consciência colectiva. Algumas com muita saudade de um passado que se doira, porque se transforma numa névoa de certezas que hoje sabemos não durar. Outras por inevitável percepção de que o nosso mudo sofreu mutações e que há que lidar com elas.
Hoje, querendo ou não, os cravos de Abril deixaram sementes e espaço para crescerem de uma forma mais madura que nos idos de 74. Um século adiante há outra forma de ver e entender as coisas. A próxima ditadura a vencer é a das mentalidades e para isso não carecemos de tanques e outros aparatos de poder obsoletos.
As novas ditaduras aprenderam o controlo sem sair à rua, atrás dos ecrãs e da informação que generosamente lhes passamos na maravilhosa revolução dos bits e dos bites nas redes sociais e dos cartões electrónicos. Mas como todas as ditaduras, com a sua necessidade de afunilamento, não têm como despejar oceanos em garrafinhas rotuladas. Há sempre muito mais a transbordar e fora de controlo.
A vantagem dos dias comemorativos é a de os transformar em mais uma dessas garrafinhas com grande valor afectivo, que passam o resto do ano em caves escuras e frias e fora da vista e do coração de todos.
Mas se alguma coisa nos ensina a experiência, é que, se os efeitos são visíveis, o mesmo não acontece com todas as mínimas e infindas causas que os despoletam. Só nos apercebemos de um punhado de causas que conhecemos e, as outras, muito mais numerosas, pertencem a uma roleta russa que jamais podemos controlar.
Por isso tenho fé, nas sementinhas, elas próprias causas silenciosas e diligentes, que um dia se hão-de acumular e manifestar, como belas explosões de estrelinhas luminosas, com efeitos muito positivos nas noites  insidiosas com que nos presenteiam. 


segunda-feira, 25 de abril de 2016

hoje é 25 de abril

Hoje não vou pôr nenhuma imagem porque, actualmente, as mil palavras que dizem que as imagens valem são utilizadas para apelar a emoções e sentimentos que não correspondem às intenções de quem as propaga.
As imagens que surgem na nossa cabeça também não são de fiar, porque a maior parte delas são reflexos da memória, esse arquivo geral acumulado e desorganizado segundo emoções sobre as quais não exercemos controlo.
Assim, fico-me pelas palavras neste dia 25 de Abril, que mais do que um movimento político, foi um momento de esperança, de mudança, de possibilidades de atingir uma forma de estar diferente da que nos aprisiona e paraliza.
Há sempre esperança e escolha infinita se percebermos que existem duas realidades diferentes: a que se desenrola fora de nós e a que se passa cá dentro, onde está tudo o que somos, o que queremos e o que desejamos.
A nossa atenção deve estar com a realidade que realmente nos pertence, pois o que se passa fora de nós é uma amálgama desorganizada de factos e acções sobre os quais ninguém pode afirmar ter algum controlo. Mesmo tendo essa ingénua pretensão.
Saber, no entanto, que o que está dentro de nós é que é importante, é que é o nosso 25 de Abril. Reconhecer que o exterior não tem nenhum poder sobre nós, a menos que acreditemos nisso e que deixemos o furacão de fora destruir tudo à sua passagem, essa é a única revolução possível e verdadeira.
Hoje é um dia em que podemos escolher olhar e mudar o mundo a partir de dentro. E que assim seja todos os dias, em todos os momentos em que disso nos lembrarmos.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

abril, messias e medos: grão a grão, a revolução

foto daqui
Há quarenta anos uma reivindicação de capitães milicianos tornou-se numa grande revolução popular, hoje celebrada como uma data messiânica em que tudo se pode tornar possível. Enquanto as festas se multiplicam na rua, o grande irmão à portuguesa espreita na sombra os sinais de sublevação que orientam os medos de todos os poderosos: as mil e uma maneiras de serem atacados pelos não poderosos.
Abril tornou-se um novo natal de elevadas expectativas e muitas e garantidas decepções. Mais uma vez, a escolha de quem sonha se deposita num dia milagroso em que tudo pode acontecer. Juntam-se nas praças e nas ruas, pronunciam palavras de ordem como quem esconjura demónios e, no fim do dia, afogam sonhos em telenovelas e no território familiar das almofadas.
A revolução estaria em fazer todos os dias o esconjuro, à média de um pequeno gesto de protesto por dia que, multiplicado por dez milhões de portugueses, durante todos os dias do ano, daria nada mais, nada menos que 3 650 000 000 de úteis protestos anuais.
Um número assim tem significado. Respeitando, ainda por cima, a escolha de cada um no seu gesto de protesto diário. E imaginem os múltiplos medos provocados nos olheiros dos governos e das conspirações planetárias contra todos os sofredores deste mundo...
Abril, magia, esconjuro, juro que assim seríamos muito mais eficazes. Grão a grão, faríamos a revolução.