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quarta-feira, 10 de junho de 2020

dia de Portugal a cores

"Green, Red and Yellow Hearts" - MMF
Achei muita graça aos Lusíadas, apesar de ter tido de me habituar à leitura rebuscada do texto em verso. As histórias assaltavam a minha imaginação, embora só uns anitos mais tarde, rendida às delícias da ficção científica, tenha percebido o verdadeiro potencial do clássico.
Na altura, a professora encarregada de nos revelar as maravilhas camonianas era uma goesa de Moçambique. Um vislumbre da riqueza ainda menosprezada do caldeirão das raças alimentado pelos portugueses. Mesmo nos momentos mais segregacionistas dos regimes passados, o dia-a-dia de muitas raças juntas era uma prova inequívoca de que o mundo não era necessariamente branco, ocidental ou mesmo masculino.
A cor branca, já que trazida à baila, é a junção de todas as cores e é a cor que reflete todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e por isso aparecendo como clareza máxima. Andamos todos às escuras quando gritamos contra "poderes brancos" e a replicar conceitos que, afinal, entendemos com muito pouco entendimento.
A confirmar-se que todas as raças descendem da negra, então é que a porca torce o rabo e se destroçam os argumentos extremados de algumas gentes. Podia até escrever-se mais um poema épico sobre esses filhos descoloridos que se indignam com as cores dos seus egrégios papás.
A indignação tem duas faces, como as moedas. Numa delas é a legítima recusa de circunstâncias injustas. Noutra, apenas um muito feio reflexo de medos treinados em nós por outros. Enfim, as moedas também se trocam.
Bom dia de Portugal e de Camões, que via mais com um olho só do que muitos outros, mesmo com os mais correntes olhos virtuais. Bom dia das Comunidades e muita paz, à laia de vacina contra exaltações avulsas.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

o dia dos portugueses

Camões no Retrato Pintado a Vermelho do pintor português de origem espanhola Fernão Gomes
As coincidências são todas significativas e não é por acaso que o poeta da língua portuguesa, Camões, foi escolhido para representar o 10 de Junho, Dia de Portugal e das Comunidades. A propaganda política é, neste caso, uma doninha com um barrete frígio (que afinal vem da Turquia e dos seus heróis e não é um exclusivo da revolução francesa) e que ostenta a bandeira das quinas enquanto estabelece insidiosamente o retrato do português a celebrar: um artista sem o reconhecimento da sua época, um morto-de-fome, um falhado.
Esta é a representação dos portugueses que agrada à propaganda, o desgraçado que se vai buscar ao banco de ossadas e se reabilita na medida da caridadezinha, desligado dos outros, que são poderosos e só se dão em alianças com os poderes externos, com os estrangeiros que também nos desdenham e afinal nos querem comprar.
Ninguém acredita na sobrevivência de um país de apenas dez milhões, que empurra a sua juventude e a sua força de trabalho para o exterior. Já todos falam no seu desaparecimento e planeiam a ocupação do seu território por vários conluios de gente mais habilitada para gozar as belezas do País do que os pouco merecedores portugueses.
Essa é a arquitectura mental com que se celebra este Dia de Camões. Sem qualquer respeito pela vontade dos Portugueses. Até porque a sua integridade física está ferida de todas as formas de exploração e iniquidade possíveis de imaginar. Nunca um povo foi sujeito a um plano de aniquilação tão perfeito e continuado, sem qualquer hipótese de denúncia contra os seus algozes.
A maldade é, felizmente, escassa. Porque trabalha com base na destruição. Nada cria, apenas consome o que já existe.
Ao contrário do amor dos verdadeiros Portugueses pela sua identidade, pelo que representam. E isso é a criatividade, a vontade de ultrapassar as mesquinhas barreiras físicas que lhes impõem.
A verdadeira força está na inspiração que ilumina as sua capacidade mental, à imagem e semelhança do sol que brilha por cá como em nenhum outro lugar (as coincidências continuam a ser significativas), na fé que irrompe nos instantes cruciais e nos faz mover montanhas, dar a volta ao mundo e subsistir a todas as tentativas de aniquilação.
Não é por acaso que as fronteiras portuguesas são das mais persistentes. É pelo amor dos Portugueses e pela sua crença essencial de que os milagres acontecem e não há adamastores que lhes resistam. É porque o Bem infecta qualquer mal e podem vir Chineses, Russos, Brasileiros e outras hordas por cá à conquista, que não lhe resistirão.
O vórtice português é um caso único, como já em tempos reconheceram os romanos e outros invasores. Nem os Miguéis de Vasconcelos, nem outros colaboracionistas, idos e actuais, terão alguma vez qualquer hipótese de aniquilar este mágico Portus Cale, ou Porto do Graal, ou Portugal.
Apesar da negativa orientação emprestada aos seus destinos pelas elites que acham que a vida é um privilégio da matéria e, portanto, dos fortes e poderosos, os Portugueses sabem, no seu íntimo, que é a integridade do espírito que os guia. E a integridade não divide; antes, fortalece todos numa união imbatível. É esse o carisma de Portugal e a atracção fatal de quem tem a sorte de connosco contactar.