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domingo, 20 de julho de 2014

o som e o pesadelo

«Ventriloquist» by Martin Wittfooth, New York
A engraçada noção que persistimos em manter do Verão associado a férias, descanso e à tranquilidade com que todos sonhamos é sistematicamente pulverizada pelas dezenas de festas populares, festivais e eventos com que, abusivamente, as autarquias e as grandes multinacionais bombardeiam tudo e todos, dia e noite, e já em todas as estações.
Péssimo investimento é comprar ou alugar casas junto dos locais habitualmente escolhidos para esse tipo de eventos, sejam eles citadinos ou de lugarejos que viram infernos durante a sua realização. Para esses casos não há lei do ruído que nos valha, não há prevaricadores, não há direitos.
Além de esmagarem a concorrência de qualquer agente cultural com os seus mega espectáculos ao preço da uva mijona ou totalmente gratuitos, impõem a sua versão de «alegria» e «vida em festa» a todos os infelizes que se lembrem de viver num raio de dois quilómetros do acontecimento.
Os motivos que levam os grandes decisores nacionais a flagelar toda a gente com este conceito de boa disposição pública só podem estar relacionados com os métodos de tortura mais corriqueiros de qualquer polícia secreta e repressiva, em que a privação do sono e da tranquilidade serviram para espremer vontades contra os direitos e os desejos dos indivíduos.
Será que a lei da causa e efeito proporcionarão aos responsáveis por este flagelo uma encarnação num mundo reduzido a uma gigantesca coluna de som a pairar pelo espaço?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

desliguem o som!


Por que razão hão-de as pessoas falar tão alto nos cafés e nos restaurantes que se torna insuportável frequentá-los? Será por isso que agora tudo o que é espelunca para servir cafés tem música pimba a escorrer pelos altifalantes? E o barulho que fazem a arrumar a louça e a arrastar cadeiras e mesas? Será normal?
De uma coisa tenho a certeza: é quase impossível garantir um mínimo de silêncio em casa, na rua, nos locais públicos. Outra pergunta: haverá legislação efectiva que impeça as pessoas de enlouquecer com o barulho que toda a gente se lembra de produzir?
Não faço ideia se é normal haver adolescentes retardados com os telemóveis aos berros no metropolitano a debitar música para a carruagem inteira, nem se as pessoas fazem ideia das tristes figuras que produzem quando no meio da rua, em qualquer lado, têm conversas privadas aos gritos para o telemóvel.
Nos condomínios privados, por exemplo, poderia supor-se que haveria outro recato do que o da vizinha aos gritos com os filhos endiabrados, mas é uma ideia enganadora. Da ventilação dos prédios ao barulho dos elevadores, passando pela chinfrineira dos cortadores de relva ou dos aspersores de água nas zonas verdes, é um inferno de ruídos que nunca cessa.
Para tentar de algum modo isolar a minha existência, comprei um MP3 para abafar com música todo o clamor alheio. Só para descobrir que tenho de ligar o som no máximo para ouvir qualquer coisa - e tem de ser algo barulhento, porque a música clássica e o jazz, mesmo no máximo das capacidades do aparelho, não resistem ao ruído exterior.
Achava eu que os portugueses eram inexplicavelmente tensos, irritadiços e mal dispostos. Pudera... Sempre que estou em Portugal, acontece-me o mesmo e, acreditem: é este barulho infernal em todo o lado que dá cabo do nosso ânimo e da nossa disposição.
Por favor: desliguem o som!