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terça-feira, 26 de setembro de 2017

a estranha natureza humana

foto MMF
A estranha natureza humana, na relação com o que lhe dá materialidade, é um fenómeno a observar com atenção. 
Para escapar à intrincada colmeia social que se tornou o obrigatório tecido da vida, procuram-se os espaços ao ar livre para recuperar um equilíbrio natural, que devolva uma perspectiva mais equilibrada e tranquila da nossa passagem pelo planeta.
A surpresa consiste em constatar que, nessa busca, poucos prescindem, por exemplo, do telemóvel para o seu contacto com a Natureza. É vê-los passar de auscultadores nos ouvidos e a falar sem parar numa altura em que deveriam confiar o seu tempo e a sua atenção ao ambiente que os rodeia.
Ou a tirar fotografias em vez de usar os olhos para apreciar e gravar o melhor da paisagem. E em animadas altercações com quem os acompanha, tal é o vício de jamais estar em silêncio.
Aos fins-de-semana, então, atropelam-se em estradas, carreiros e, à falta deles, matos, dunas, rochas e declives, abordados como se de ruas e passeios se tratassem. Indisponíveis para o reconhecimento dos atributos próprios das zonas selvagens e cegos para os avisos estrategicamente colocados um pouco por todo o lado.
As zonas protegidas são encaradas como mais um jardim citadino, cães e crianças alegre e inconscientemente à solta, por correrias e perigos insuspeitados. O divórcio da Natureza não se resgata com ocasionais passeios de fim-de-semana.
Falta a consciência de que somos um com a terra e o planeta, de que o corpo que nos transporta nesta viagem a que chamamos vida é parte integrante de todo este ecossistema. De que de nada nos servem, por exemplo, os pulmões, sem as árvores e as plantas. De que o respeito por essa e outras realidades é essencial para manter a vida.
Em vez disso, aborda-se a Natureza com o "cinto de segurança" da ligação permanente às redes sociais, igualmente sem consciência de que não se trata afinal de segurança, mas de um aprisionamento voluntário a um sistema virtual, de que não se é capaz de prescindir. 
Assim se viaja pelo meio natural, a fazer de conta que é um passeio de verdade. Pois embora o corpo, os ténis e vestuário da moda estejam presentes, a mente não tem capacidade para apreciar o momento em modo de experiência física e directa.
O lixo fica para trás, como se os sistemas de recolha por ali passassem todas as noites, à semelhança do que proporcionam as vilas e cidades. Como se apenas outros, que nunca os próprios, fossem responsáveis pelo desequilíbrio e caos criado sobretudo em reservas e zonas protegidas.
Eis a estranha natureza humana, que tanto anseia por alternativas mais saudáveis e de qualidade, sem nenhuma ideia do que isso possa ser. Apesar de toda a informação actualmente disponível em milhares de páginas virtuais. E não só.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

outros perigos na duna

foto mmf
Recebemos avisos constantes mas, regra geral, não lhes ligamos nenhuma.
Na Cresmina há várias placas que avisam ser proibido caminhar fora do passadiço, gente ou respectivos bichos de companhia, sob pena de se ser multado, blá, blá, blá.
O que não dizem os avisos é que as piores consequências não são apenas para a duna, mas para quem irresponsavelmente a desafia.
O que presenciámos há tempos atrás foi disso um exemplo inesquecível: um jovem cozinheiro apanhado desprevenido pelo corte de trânsito na manhã de um evento desportivo, decidiu atravessar rapidamente o passadiço para chegar ao restaurante do Guincho onde trabalha.
A certa altura decidiu que fazer um atalho pela duna; era a sua hipótese de poupar algum tempo, visto o atraso que já levava. 
Conseguiu correr numa zona de pedras com alguma segurança, mas quando enveredou pela zona de areia e vegetação rasteira, a uns escassos dez metros das traseiras de um restaurante que confina com a duna, aconteceu o que podia ter sido uma inacreditável tragédia.
De repente, começou a cair e a desaparecer em buracos que não se viam, repetidamente, tendo conseguido, de todas as vezes, levantar-se e prosseguir.
Foi um espectáculo de cortar o coração ver o rapaz a tentar vencer os poucos metros que o separavam da estrada do Guincho em quedas sucessivas. Algumas delas levaram-nos a correr pelo passadiço na direcção dele, para o caso de se ter de chamar por socorro.
Ao fim de longos minutos o rapaz conseguiu chegar ao muro do restaurante e ficar em segurança. Via-se que estava exausto, mas escapou de ferimentos e de uma queda mais grave que o tivesse impedido de continuar.
Nem toda a gente terá, eventualmente, a sorte deste jovem cozinheiro. Mas continua a haver quem se aventure fora do trilho, sem qualquer consciência do que está verdadeiramente em risco.
Na presença de uma equipa da Cascais Ambiente, chamámos a atenção para o sucedido. Falaram em reforço de sinalização. A que existe nada diz, de facto, sobre a possibilidade do descrito acima.
Será o suficiente para evitar acidentes insuspeitados?