Mostrar mensagens com a etiqueta fadas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta fadas. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 31 de outubro de 2023

fadas em casa?

 

Ilustração: MMF

Há tempos, uma amiga instalou umas câmaras em casa para vigiar o comportamento dos cães quando estão sozinhos. O equipamento vem com uma aplicação que permite monitorizar em tempo real o que se está a passar nas áreas abrangidas pelos olhinhos virtuais.
Este mês convidou-me para um chá, um chapinhanço na piscina e uma lazeirice nas cadeiras do jardim com vista para o mar e para a Serra. Entre conversas, surge a ideia de ficar até mais tarde, para ver o que as câmaras filmam quando a noite se instala. Assim foi.
Depois do jantar e das conversas que nunca se esgotam, apagámos as luzes e ela fixou o telemóvel num sítio onde pudéssemos observar as duas as imagens captadas na sala. Foi a loucura total.
Os infravermelhos das câmaras começaram a mostrar umas bolas de luz branca que atravessavam a sala a grande velocidade. Saíam das paredes, do chão, do tecto, com uns rastos parecidos com as caudas de cometas. E desapareciam do mesmo modo, desaparecendo pelas paredes.
Eram imensas e aquilo parecia um festival de luzes, aparições efémeras que nos transmitiam uma alegria infantil. Só se viam na aplicação do telemóvel, possivelmente graças aos infravermelhos, mas sentiam-se. Não sei bem como, mas também não interessa, porque a nossa excitação funcionava ao mesmo nível daquelas luzinhas que apareciam e desapareciam por todos os lados.
Estivemos naquela fruição bastante tempo, de braços no ar e às gargalhadas como as crianças que comem doces a mais. 
A certa altura uma bolinha de luz mais avantajada atravessa a sala, de uma parede à outra. Ouve-se quase em simultâneo um estrondoso estalo e a electricidade da casa foi-se. As câmaras deixaram de mostrar as luzes esvoaçantes.
A habitual manobra de desligar e voltar a ligar o quadro eléctrico não funcionou. O candeeiro da rua continuava aceso e havia energia nas casas vizinhas.
Ficámos à luz das velas e a olhar para as imagens do que se tinha passado, mantendo a alegria com que tínhamos assistido. Uma das filmagens, vista em câmara lenta, mostrava a imagem de uma das bolinhas visitantes com contornos de algo semelhante a asas a bater tão rápido que não se notavam de outra maneira.
A conversa durou bem para lá do inusitado espectáculo a que pudemos assistir, com relatos do que alguns amigos dizem do que se passa todas as noites lá em casa. Fadas, portais, elementais e mais alguns palpites, cada qual no seu género e registo.
Não faço a mínima ideia do que se passou, mas foi inebriante e sem ressaca quando a manhã chegou e a luz voltou, como tinha ido, sem aviso prévio. 
O que posso dizer é que, se são fadas, desconfio que a minha amiga é uma espécie de mãe designada e protectora delas todas. Espero ter oportunidade de revisitar a experiência e ver se aprendo alguma coisa com as luzinhas viajantes entre mundos.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

o que se sabe sobre as bruxas



O que toda a gente sabe sobre as bruxas é que elas são feias, têm narizes disformes e aduncos, verrugas nos sítios mais improváveis e que dão umas gargalhadas horríveis. 
Também se sabe que as mulheres ruivas são bruxas, como dizia a inquisição, que aqui por terras lusas se encarregou de matar umas dezenas de milhar de mulheres por essa razão. Só ficou por explicar que outras razões levam pessoas aparentemente normais a queimar mulheres, seja por que razão for.
É igualmente sabido que as bruxas são as que empatam as fadas, se bem que hoje já se tem consciência de que as fadas se fartam de empatar as bruxas, mas elas é que ficam com a fama.
Hoje, que é o dia das bruxas, temos de convir que elas são é umas grandes malucas, com propensão para voar por aí soltas em vassouras, coisa que mais ninguém se atreve a fazer. Vão passar a noite na maior farra, a beber e a comer como se não houvesse amanhã, a explorar prazeres que a maior parte de nós nem se atreve a pronunciar.
Será isso mau? Se fosse, mesmo a sério, por que usaríamos um dia, ou melhor, uma noitada de bruxas para nos lembrar que é possível enlouquecermos um bocadinho de vez em quando. Na minha opinião, o dia destas criaturas aparentemente horrendas celebra-se para provar que nem o horrível é permanentemente mau, nem o bonito é permanentemente bom.
É possível ver bom e mau em todo o lado e gozar um pouco à maneira dos que se permitem essa liberdade, apesar dos preconceitos e das moralidades apressadas com que gostamos de nos armar em santinhas e santinhos.
Ter um dia para fazer da farra o único sentido da vida é ou pode ser tão bom como ter outro para enterrar a cabeça no trabalho (e há muitos mais dias para isso). Não é por nos concedermos essa liberdade que perdemos a face e podemos continuar a ser uns chatos entediantes e entediados o resto do ano.
Portanto, feliz dia das bruxas. Farremos!