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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

outros natais

 

Muchi (mana mais velha), Aida Mãe e MMF

Alguns dias antes do Natal de 1966 fui convocada pela Mãe Aida para uma conversa entre as três mulheres mais velhas da família. Ela, a mana mais velha e eu. Pressenti a seriedade do assunto, uma vez que não tinha ouvido nenhum dos habituais pára quieta!, esta miúda vai dar connosco em doidos, onde é que estavas?, o que estavas a fazer?
Reunimos no quarto dos meus pais, o que aumentou a minha apreensão, porque era território interdito às crianças, entre as quais me contava.
Após um momento de silêncio e à porta fechada, a Mãe Aida revelou o motivo da convocatória: tinha nove anos feitos e, portanto, idade para ajudar nos preparativos do Natal, que davam muitíssimo trabalho.
Ainda pensei que me iam pôr ao lado do cozinheiro, onde eventualmente me calharia a tarefa de lamber tachos e panelas, ou rapinar um frito acabado de fazer. Mas não. A tarefa ia bem além da estreiteza dos meus sonhos.
O passo seguinte foi abrir as portas dos armários e retirar de lá as dúzias de presentes que precisavam de ser embrulhados e marcados com os nomes dos felizes contemplados. 
Garanto-vos: o meu coração deixou de bater durante um tempo que não posso quantificar, porque fiquei paralisada. Acabava de descobrir que o Pai Natal deixava tudo naqueles preparos para depois nos desenvencilharmos sozinhos. Foi um choque indescritível.
A minha mãe tinha, felizmente, tudo preparado. Uma lista de quem ia receber os presentes, caneta para ir riscando quem já estava despachado, papel de embrulho, fitas, tesoura, fita-cola e cartões natalícios.
Confesso que fiquei bastante desapontada com aquela bagunça do velhinho do trenó e dos sininhos, que nos obrigava a ter um trabalho do tamanho do monte de prendas que enchia o quarto. 
Por outro lado, percebi que era importante aquela responsabilidade que me confiavam. Logo eu que era, das cinco manas, a que tinha pelo menos uma asneira diária para ser relatada à mesa do almoço ou do jantar.
Cumpri a minha parte da tarefa com energia e, quando acabámos, lembrei-me de que não tinha embrulhado nenhum presente para mim. Perguntei por eles. Em vez de me responder, a minha mãe deu a tarefa por terminada e correu connosco do quarto.
Será que o Pai Natal se esqueceu de mim?
A mana Muchi virou-se para mim: Ainda não percebeste que não há nenhum Pai Natal? E seguiu, despachada, para as suas coisas.
O meu coração voltou a congelar. Nem sequer sabia que isso era possível, quanto mais que o Pai Natal não existia.
No dia seguinte fomos todas para a árvore de Natal abrir as prendas. As minhas também estavam lá. Reparei que a Muchi abria as dela com a mesma algazarra das outras manas. Não sei como conseguia. Eu tive de guardar o Pai Natal dentro da minha cabeça para continuar a sentir o que sentia antes daquele ano desmancha-prazeres.

Pai Manuel a avaliar as hipóteses de reparação
do matope das picadas moçambicanas

O nosso Pai Natal, Manuel, ficava às vezes atascado no meio do mato e muito contrariado por não conseguir chegar a tempo de embrulhar as prendas com a Aidinha. Acho que foi por isso que me escalaram para fazer as honras da versão desleixada do Santo Nicolau e dos seus elfos.







segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

nas alturas


Hosana nas alturas, ou como só as aves poderão apreciar cabalmente este voo sobre todas as coisas, que pode perfeitamente ser a viagem espiritual que temos de imitar para pôr certas coisas em perspectiva. Valha-nos portanto Santa Abacate, que apesar de terrena, está perfeitamente de acordo com as mais avançadas tendências vegan. E se disso tudo ainda tirarmos outros adoçamentos, melhor. Portanto, Boas Festas e excelentes voos, é o que vos desejo.