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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

a podar é que a gente se entende

"alive and free"
A simples verdade é, que para nosso descanso, gostamos de podar tudo à nossa volta. Não suportamos a exuberância da variedade e preferimos domar os ramos que escolhem caminhos diferentes da ordem que consideramos aceitável.
Depois queremos muito ter mais escolhas, mas vamos eliminando as que achamos estar a mais, sem gastar um momento a ponderar se não estarão defronte dos nossos olhos para alargar o nosso leque de possibilidades.
Julgamos mas depois queixamo-nos imenso de que nos ceifam as escolhas. Fazemo-lo todos os dias e não admitimos que a redução é posta em prática, em primeiríssima mão, por nós. A responsabilidade atira-se, irresponsavelmente, para os outros, para o exterior, para a rua. 
Como se não bastasse essa cegueira auto-imposta, ainda levamos a loucura ao ponto de deixarmos que um grupo de ceifeiros manipule uma entidade estatal, também da nossa responsabilidade, que todos os dias se ocupa a criar regras de normalização que nos transforma a todos em embalagens do mesmo tamanho, com o mesmo peso e códigos de barra para nada falhar ao seu controlo.
Que triste imagem temos de nós mesmos e que catalizador exponencial é o menorizante conjunto de regras que admitimos para a interacção social.
Em contacto com os outros, admitimos, relutantemente, uma mão cheia de regras de funcionamento, qual delas a mais manietante. Dentro nós ainda vamos sonhando, mas com os outros temos regras de calabouço e é assim que nos sentimos em sociedade.
Em vez de aproveitar o ímpeto de possibilidades que uma maior liberdade, bem educada, nos concederia. 

quinta-feira, 24 de maio de 2018

as linhas e os pontos da vida



Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto. Isto devia alertar-nos para a natureza criativa da nossa experiência. Toda a narrativa é exponencialmente aumentada por quem a ouve, a lê, a vê ou reconta.
Bom ou mau, tudo evolve para algo infinitamente maior, graças à contribuição de cada indivíduo. Ou seja, um conto é apenas o início de uma história global, cheia de intervenientes receptores, recontadores e mesmo difamadores ou abafadores.
Com isto, partindo do primeiro ponto do conto, se pode traçar um mapa irradiante de possibilidades e calcular a riqueza possível do início de cada história. Avassalador se conseguirmos imaginar que o mesmo mapa tem capacidade de se desenvolver não apenas graficamente, a duas dimensões, mas por todas as que conseguirmos imaginar a partir dessas.
Neste universo de possibilidades, será inteligente e honesto ficar apenas pelas baboseiras achatadas de quem pretende moldar a nossa imaginação e criatividade com campanhas de opinião e publicidade que concentram o seu propósito em difundir ideias feitas e pobrezinhas?
Há bem mais sob os nossos olhos e outros sentidos do que um conto e um ponto. E sendo que muitos contos dão forma a uma história bem maior, e muitos pontos desenham linhas e mais linhas, há que aceitar, sem dúvidas e até com a requerida humildade, o nosso papel criador na imensa arquitectura da vida.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

sexta-feira treze

"Friday and 13"

Nasci numa sexta-feira treze e nunca entendi a negatividade que a ela se associa. O treze é um número simpático e reduzido à sua expressão mais simples, dá quatro, o número do quadrado que sustenta as pirâmides, por exemplo. É sólido, representa fundações e outras construções mentais que muito nos aproveitam.
Usar o dia para assustar alguém é, no mínimo, uma fantasia de mau gosto. A maior parte das pessoas diverte-se a plantar sementes de superstição nos outros e isso não é muito saudável. Especialmente neste momento em que a nossa consciência alargada nos mostra que, mais do que nunca, devemos explorar todas as maravilhosas potencialidades que o nosso pensamento é capaz de imaginar. E que é possível pôr em prática para moldar o mundo de uma forma mais agradável e prazenteira.
A sexta-feira treze devia ser celebrada como um momento de viragem e de concretização, de reflexão sobre a força que podemos imprimir à realização dos nossos sonhos.
Reza a história familiar que, tardando a minha resolução em vir a este mundo, só me decidi depois de uma carga de elefantes, em plena Gorongosa. Ora, o elefante é um símbolo de boa sorte e também  de sabedoria, persistência, determinação, solidariedade, sociabilidade, amizade, companheirismo, memória, longevidade e poder. Por que razão haveria, então, de ver o pior da sexta-feira treze, com tantas características auspiciosas a ela associadas?
Sempre que chega uma sexta-feira treze sinto, invariavelmente, uma energia poderosa e alegre, apenas toldada pelos disparates que por aí se dizem sobre o dia. Que mal se pode ver num gato preto ou num guarda-chuva aberto dentro de casa? A não ser, claro, preferir explorar a adrenalina do medo e as suas pouco inteligentes consequências?
Abençoadas sextas, a treze e não só. A vida está sempre a presentear-nos com tudo o que precisamos para a transformar num carrossel de alegrias e as multiplicar em maiores benesses. E todos a podem ver dessa forma, em vez de desperdiçarem o pouco tempo que nos cabe aqui em infelizes futilidades.

quarta-feira, 28 de março de 2018

a beleza da democracia


A beleza da democracia é que é um conceito que apenas depende de nós. São as nossas ideias, e até a falta delas, que criam limites ou uma infinidade de soluções dentro desse conceito. Como nas relações, na forma como entendemos viver a nossa vida, é a nossa noção de liberdade que se manifesta, por excesso ou por defeito, para estabelecer os contornos que desejamos serem a marca distintiva do que realizamos.
Grupos, países ou locais são fruto do uso que damos às nossas escolhas. Os ideais, por melhores e mais atraentes que os pintemos nas nossas cabeças, só se mostram nas nossas acções na medida  em que nos permitimos pô-las em prática.
O líderes que escolhemos, não têm de impor as suas ideias, na medida em que são sempre insuficientes em comparação com o vastíssimo leque das de quem os segue. O seu trabalho é ter a visão de conjunto que permita unir e ampliar as opções de todos.
Cascais é a nossa terra, o nosso corpo colectivo, o nosso porto de abrigo e a possibilidade sempre existente de moldar a nossa vida pelos limites cada vez mais extensos que possamos imaginar. Não esperemos que pequeníssimos claustros de cidadãos, por falta de imaginação de tempo ou de experiência prática do que pode ser cada vez mais perfeito, limitem a potencialidade de transformar este território nos nossos sonhos e ideais.
Os partidos não definem a qualidade de vida que nos caracteriza. Somos todos e cada um de nós que definimos essas entidades colectivas e a experiência que podem trazer à nossa existência. Um grupo político, esvaziado de ideias e do coração de quem o compõe só pode traduzir uma realidade empobrecida para o concelho e para os seus munícipes.
Tudo começa e acaba e nós, na força com que acreditamos que podemos criar uma realidade cada vez mais rica e adequada às nossas expectativas, e na coragem das nossas acções nessa direcção.
Todos os dias são oportunidades para mudarmos uma areia na engrenagem e somos duas centenas de milhar de possibilidades para que isso aconteça. Acham pouco?

domingo, 5 de novembro de 2017

deliciosos domingos

photo by Mafalda Mendes de Almeida
O que faz do domingo um dia tão delicioso? O pequeno-almoço na cama ou a sorna sem rotinas obrigatórias? A preguiça ou um filme que se vê no sofá? As almoçaradas com a família ou amigos?
A resposta não está na convenção de um dia de descanso, como o sábado, sugerido pelas linhas-guia dos escritos religiosos. Nem no código do trabalho. Ou no ritmo hiper galopante do que consideramos ser as rotinas obrigatórias dos nossos dias.
Domingos ou outros dias para esticar preguiçosamente as pernas são dias deliciosos porque temos tempo para pensar e estar connosco. Para repensar os rumos que tomamos e fazer um balanço do que realmente vale a pena. Ou simplesmente para relaxar e sentir o corpo, respirar e outras pequenas coisas essenciais que não nos damos ao trabalho de respeitar todos os dias.
Mesmo assim há quem se infernize com a antecipação de voltar ao trabalho na segunda. Sem dar conta que reiniciar mais uma semana também é um poderoso gatilho para mudar e começar de novo se alguma coisa não está a dar certo.
Afinal, somos todos cientistas de primeira água. ocupadíssimos, durante toda a vida, a falhar e a voltar a tentar, a aprender com os nossos erros. Por isso, todas as segundas-feiras são para ser naturalmente contabilizadas como novas fases de testes. Aproveitemos.
Voltando aos nossos deliciosos domingos, que bem sabe ficar a olhar para o tecto na cama, demorar a decidir o que se toma como pequeno-almoço, o que vai deixar de se fazer porque, de repente, se tem consciência de que somos livres e podemos mudar as nossas escolhas rotineiras como nos apetecer.
O problema é que não temos noção disso todos os dias, vá lá saber-se porquê...
Domingos são dias de nada e, como o nada não existe, são dias de tudo. De todas as possibilidades em aberto. Já pensaram bem nisso enquanto se arrastam de um lado para o outro a pensar como podem aproveitar melhor a folga para ser tudo sem ser nada?
Santa Abacate nos dê muitos domingos deliciosos para entendermos de uma vez que é possível ser e ter tudo quando não nos apetece fazer rigorosamente nada. 

terça-feira, 1 de agosto de 2017

estrelas cadentes

Imagem daqui


Tenho visto pelo menos uma estrela cadente todas as noites. Nunca vi uma estrela cadente, disse-me alguém há um par de dias. Pensei em responder que é preciso olhar para cima à noite, mas era uma conversa que estávamos a ter e às tantas temos de decidir entre olhar directamente para quem temos à frente ou olhar para cima e ver estrelas cadentes.
Noutras ocasiões alguém demonstrou com entusiasmo a minha boa fortuna por ver uma estrela cadente. Como se fosse um sinal dos céus. Acontece que as estrelas cadentes não são sequer estrelas e o céu em que brilham é apenas o limite da atmosfera em que se desfazem com o atrito. Está bem... São pedacinhos de céu também.
Cadente é uma palavra muito final. Adequada, no entanto, à sensação que fica quando a luzinha desaparece, após um instante de brilho. Também não desaparece de verdade, apenas se transforma. Mas como qualquer outro fenómeno ou manifestação, é uma oportunidade breve que se vai em fracções de segundo.
Tudo ao contrário da eternidade, com a sua enunciada paz e perenidade. Ou é apenas um desejo colectivo de que a estabilidade exista, numa qualquer forma concreta? Num universo em que tudo está em permanente mudança e qualquer detalhe imprevisto abre de imediato infindas possibilidades? 
De onde vem essa loucura colectiva que nos incita a procurar a estabilidade a qualquer custo, num universo de estrelas cadentes, em que a única coisa permanente é a mudança?

sábado, 15 de julho de 2017

estranhos caminhos

'strange ways' by MMF
Estranhos caminhos são os que estão por experimentar. Não são erros, mas realidades que escolhemos explorar ou deixar para trás. São conceitos criados por nós e prontos a utilizar, modificar, enriquecer, abandonar. São estranhos, como filhos que vemos pela primeira vez e não reconhecemos. No entanto, são nossos e ganham existência a partir da nossa iniciativa, das nossas acções, vontades, desejos e escolhas. Por que nos parecerá sempre tão duro aceitá-los? Parece-nos difícil ultrapassar os condicionamentos sociais e culturais, aqueles que julgamos serem a nossa personalidade e, afinal, não passam de noções que nos são incutidas por outros, que também já os receberam de outras gentes. Mas apreciar a verdadeira capacidade que temos de criar, expandindo o conhecimento e a consciência, ampliando conceitos e cenários, não é pura e simplesmente magnífico? Estranhos caminhos são estes que criamos com tanta facilidade que nem os reconhecemos quando surgem à nossa frente, Não são desafios. São possibilidades que já concretizámos e que apenas aguardam mais uns segundos de avaliação e decisão para se transformarem de novo em estranhas possibilidades, continuamente em aberto.

domingo, 18 de outubro de 2015

inocência




A memória é um fardo que limita as nossas experiências. Aprendemos e acumulamos memórias que nos ditam, a maior parte do tempo, fronteiras que não devemos ultrapassar. A memória está no passado, onde passamos a maior parte da nossa vida, e quando queremos fugir disso projectamos um futuro que se baseia na nossa aprendizagem. 
Esse futuro, graças à nossa memória, é sempre limitado pela nossa experiência e, portanto, desalentador.
O momento presente não é vivido por falta de inocência. Não somos capazes de ver além do nosso passado e do nosso futuro, sempre balizado pelo minúsculo denominador comum da memória.
Tudo está em aberto e as possibilidades são ilimitadas se deixarmos de lado a pequena experiência do que aprendemos.
A inocência, a liberdade de não nos apoiarmos apenas em memórias, é o encantamento, a paixão e a força de começar do zero, de nos permitem novas experiências.
O apego ao passado acumulado na nossa cabeça tolhe-nos e aprisiona-nos num mundinho limitado e sem interesse.
Apesar do cansaço dessa forma de entender a vida, poucas vezes nos concedemos a liberdade de esquecer de tudo e viver o momento presente, sem afunilar as nossas hipóteses ao já vivido.
A memória não é uma coisa boa quando queremos mudar alguma coisa.
O amor, a empatia, remetem-nos à nossa inocência original. Quando se dão, vemos tudo com novos olhos, acreditamos, nada mais tem importância. A emoção que sentimos é suficiente para pormos de parte todas as memórias, todos os avisos à navegação. Nada mais importa senão o sentimento de que tudo é possível.
Porque amamos e isso anula todas as memórias do que nos faz desconfiar, do que correu mal no passado, dos lugares-comuns que nos travam constantemente.
Amemos portanto o momento em que estamos, com a inocência de um recém-nascido, sem experiências limitadoras, sem aprendizagens castrantes.