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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

a vida moral dos autómatos


A vida moral dos autómatos é impecável: não saem da linha, cumprem as regras, todas as questões são a preto e branco, não se questionam, nem questionam ninguém.
Nenhuma resposta é desagradável quando se evitam as perguntas traiçoeiras, que põem em causa as regras estabelecidas, mesmo quando se revelam manifestamente inadequadas ao bem-estar de todos.
Ser um autómato feliz e moralmente resolvido pressupõe ver, ouvir e falar o menos possível. Desviar os olhos quando se observa um erro de programação capaz de arruinar décadas de felicidade contida em meia dúzia de parâmetros jamais verificados ou contestados.
A vida moral dos autómatos é plenamente justificada pelo que outros decidem como uma formatação adequada. Pouco mais é preciso para sustentar a sua felicidade.
Imaginem, no entanto, que determinadas situações, não planeadas ou simplesmente inesperadas, provocam um curto-circuito nestes compostos de regras pré-programadas. O resultado são autómatos a bater mal, desajustados das funções que lhes foram acometidas e, portanto, perfeitamente inúteis.
A sua condição de autómatos jamais lhes permitirá a liberdade de sacudir as regras e assumir uma nova programação. Ditaram-lhes a vida dessa forma, limitada, com um punhado de funções apenas, excluindo outras razões e alternativas.
Resta-lhes a reciclagem, a redução final às suas partes aproveitáveis. Sem consideração pelo resto que eventualmente poderão ser, pois o seu contrato prévio de funcionalidade neste mundo só contempla a utilidade para outros. Jamais a sua.
É tramado ser um autómato moralmente impecável.