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segunda-feira, 25 de abril de 2016

hoje é 25 de abril

Hoje não vou pôr nenhuma imagem porque, actualmente, as mil palavras que dizem que as imagens valem são utilizadas para apelar a emoções e sentimentos que não correspondem às intenções de quem as propaga.
As imagens que surgem na nossa cabeça também não são de fiar, porque a maior parte delas são reflexos da memória, esse arquivo geral acumulado e desorganizado segundo emoções sobre as quais não exercemos controlo.
Assim, fico-me pelas palavras neste dia 25 de Abril, que mais do que um movimento político, foi um momento de esperança, de mudança, de possibilidades de atingir uma forma de estar diferente da que nos aprisiona e paraliza.
Há sempre esperança e escolha infinita se percebermos que existem duas realidades diferentes: a que se desenrola fora de nós e a que se passa cá dentro, onde está tudo o que somos, o que queremos e o que desejamos.
A nossa atenção deve estar com a realidade que realmente nos pertence, pois o que se passa fora de nós é uma amálgama desorganizada de factos e acções sobre os quais ninguém pode afirmar ter algum controlo. Mesmo tendo essa ingénua pretensão.
Saber, no entanto, que o que está dentro de nós é que é importante, é que é o nosso 25 de Abril. Reconhecer que o exterior não tem nenhum poder sobre nós, a menos que acreditemos nisso e que deixemos o furacão de fora destruir tudo à sua passagem, essa é a única revolução possível e verdadeira.
Hoje é um dia em que podemos escolher olhar e mudar o mundo a partir de dentro. E que assim seja todos os dias, em todos os momentos em que disso nos lembrarmos.

quinta-feira, 14 de março de 2013

abraços e café

Ilustração: MaritaMorenoFerreira
Toda a gente gosta de abraços, assim à laia de cachecol fofo enrolado à volta do pescoço, confortável, quente, macio. Sensação boa, familiar, protectora. Até os oferecem na rua, momentos de boa vontade que são como bandeiras de alerta mais de quem oferece do que de quem recebe.
Pois a mim não me agradam os abraços vindos do nada, de gente desconhecida que acha natural irromper de repente pelos nossos meios metros de privacidade e forçar uma intimidade inexistente. Quem são esses santos da carência que de repente se envolvem nessa cruzada afectiva e esperam o apreciado retorno?
Bem sei que também é santo aceitar e entender a dádiva na sua verdadeira intenção, mas prefiro a zona de conforto do sofá e uma caneca de café quente, mais um abraço de quem de facto está perto de mim.
Que me perdoem os espontâneos abraçadores de rua, pois até aceito um abraço desconhecido vindo até a mim num momento de necessidade. Abraço também qualquer desconhecido noutros momentos igualmente necessários. Mas não me sinto confortável a receber abraços que me parecem mais gritos de ansiedade do que cachecóis afectivos.
Parece-me mais adequado trocar o abraço vindo do nada por um café quente e uma conversa vinda de pequenos nadas, antes de passar às trocas energéticas mais complexas. É o que me parece.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

escrever

Hoje apetece-me escrever. À antiga, com um lápis afiado e num caderno de linhas, para sentir o riscar da ponta de carvão na folha. Gosto de lápis porque me transmitem segurança. Se escrever o que não quero, posso apagar e emendar o erro. As canetas são mais definitivas. Mesmo que se risque o que não se quer, fica o registo do erro, como um mapa de falhanços. Olha-se para as folhas e estão lá marcados todos os tropeços do caminho. Só que nada é definitivo, por isso, escrevo a lápis. A lápis sente-se o desenho das letras. Sabemos, com certeza, que estamos a desenhar uma realidade letra a letra. Controlamos o desenho da nossa escrita, da nossa história. Hoje vou escrever a lápis e desenhar uma fracção da minha história.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

manadas em atropelo

Gosto das manhãs de domingo em silêncio, com uma chávena de café ao lado e um livro aberto nas primeiras páginas. O mundo assim é seguro por uns momentos. Resguardado de alturas mais agrestes, em que toda a privacidade nos é retirada.
Sempre tive uma grande tendência para olhar para as fortalezas como ratoeiras prestes a ser engolidas pelo enorme e imprevisível mundo que as rodeia. Não construo, por isso, nenhuma fortaleza em torno de mim. Acho-as inúteis, uma espécie de patéticos trabalhos de Hércules que consomem a nossa energia e não nos devolvem nenhuma espécie de segurança.
Os cavalos de Tróia têm, por isso, livre circulação na minha vida. São, na verdade, manadas selvagens em constantes atropelos para onde quer que me vire. Por mais avisada que esteja sobre a sua existência, sou incapaz de lhes fechar a porta e deitar a chave fora.
A nossa vida está cheia de coisas que não conseguimos controlar. Ondas fantásticas, maremotos, tempestades e derrocadas. Por mais que as temamos, é impossível evitar o fascínio que exercem sobre nós, a tremenda beleza com que nos esmagam.
A minha natureza pertence a este mundo e está entrelaçada nas suas mais violentas correntes. A cada golpe seu sinto também a inescapável identificação. Reconheço-me fatalmente na dor que me provocam.
A minha escolha é, portanto, ignorar a segurança das fortalezas e receber cada ataque até ao limite das minhas possibilidades.

sábado, 21 de novembro de 2009

milagres de todos os dias



Uma coisa que não faz parte do meu mundo é procurar milagres em credos e crenças, em parapsicologias e mistérios. Isso, muito simplesmente, porque eles acontecem todos os dias em frente dos meus olhos. Ou estou a dizer disparates? Não me parece...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

dentro de nós

Dentro de nós passam-se coisas que só nós conhecemos. Há tempestades, revoluções, heroísmos e cobardias que gozam de autonomia própria, insensíveis à nossa lucidez e vontade.
Cá dentro vai um conjunto de vidas que não a nossa, uma saga interminável de aventuras que não temos tempo para viver em consciência e em tempo útil.
Em vez do reconhecimento dessa singular condição, somos formatados para a ignorar enquanto acordados e conscientes, tornando o conhecimento desse facto numa espécie de limbo de sinal proibido.
Receamos o confronto dessas vidas e tumultos com os dos outros e obedecemos a imposições exteriores do que parece ou não bem. Minamos a vida interior que cá dentro pulsa com uma energia desmedida em função de compromissos vários, sem coragem para assumir que há muito que não vale a pena reprimir sob pena de nos esmagarmos em conflitos sem sentido.
Falta-nos uma escola que nos ensine a gerir as nossas vidas, em vez da opção de não as gerir de todo em nome de uma linearidade imposta que nos mediocrariza.
Pior ainda, impomos aos outros a mesma medida, julgando as suas outras vidas como uma espécie de insanidade intolerável, quando de facto nos revemos e tememos nela.
Dentro de nós temos asas e felicidades inúmeras, que sufocamos todos os dias por incapacidade de as associar à realidade colectiva. Reprimimos a melhor parte dos nossos impulsos pela norma contra a qual nos revoltamos, mas que acatamos por receio de injustos julgamentos que generosamente também distribuimos.
Perdido algures entre o que sentimos e vivemos, fica um meio termo capaz de nos oferecer uma imensa felicidade, tivéssemos apenas um grão de coragem para o assumir.

sábado, 31 de janeiro de 2009

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

palavras felizes

Hoje acordei feliz. Nem sei bem porquê, mas feliz.
O Natal também foi feliz, passado como o desejei, com as pessoas que queria rever. Nem sempre é possível, mas este foi assim, bem disposto e sereno.
Não corri para comprar uma única prenda, não recebi enormidades, mas fui abraçada, mimada e contemplada com conversas longas, temperadas com muitas pequenas provas de amizade.
Gastei muitas palavras, como gosto. Ouvi muitas mais, como também gosto. Haverá melhor forma de encerrar um ano?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

mostro-me aqui



Mostro-me aqui - o meu universo azul (óleo sobre cartão)- num instantâneo do que me acode ao pensamento. Rostos e segmentos, fragmentos de cor e forma, peças de um puzzle à espera de conclusão.
É um quadro em movimento, sempre em (r)evolução. As palavras são demasiado lentas para acompanhar este universo. Enquanto o meu olhar se fixa numa das suas ínfimas parte e verbaliza o seu conteúdo, inúmeros outros segmentos já se mexeram, desapareceram ou se transformaram noutros.
É impossível fixar neste instantâneo a realidade, pois no começo era uma coisa e durante as pinceladas apenas se apanham fragmentos e, ao terminar, já não é nada do que fica na tela.

sábado, 13 de setembro de 2008

o novo e a liberdade



Gosto de estradas, de caminhos, da liberdade do desconhecido, de todas as escolhas que ainda não fizemos.
Gosto de seguir em frente, pela noite dentro, sabendo que para lá das luzes existe todo um mundo que ainda não conheço.