Mostrar mensagens com a etiqueta rumores visionários. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta rumores visionários. Mostrar todas as mensagens

domingo, 3 de junho de 2018

padrões e inteligência


A inteligência dos padrões é frequentemente subestimada. A sua beleza é evidente, mas poucos se interrogam sobre as razões que levam à atracção que provocam. A resposta é simples, embora descartada pela maior parte das pessoas que observam esse tipo de manifestações.
Os padrões são atraentes porque evidenciam a nossa capacidade de perceber que a repetição não é casual. Ocorre porque há ligações a perceber na manifestação de fenómenos semelhantes. São sinais de que há coisas a perceber. Há consciência a desenvolver em torno do que se repete e conclusões a tirar que expandem a nossa percepção.
A beleza dos padrões é essa sensação de coisas que fazem sentido sem que apliquemos mais esforço nisso, senão o do simples reconhecimento da sua existência e das possibilidades que se multiplicam a partir do momento que se observam.
Casar conscientemente a inteligência e a beleza em formas destas é uma pista valiosa para quem gosta de investir tempo a descobrir e a entender. Acrescenta sempre alguma coisa ao sentido que se busca para a existência. 
É uma revelação sem fim que traz luz, conhecimento e apreciação por esta forma de ver o mundo.

terça-feira, 22 de maio de 2012

os xamãs de hoje

Artwork by MMFerreira
 Na secura do materialismo dos dias de hoje, os artistas são os únicos xamãs aceites e autorizados pela sociedade. Repositórios de conhecimentos esquecidos e ligações misteriosas com mundos paralelos de imensa riqueza, materializam-nos em manifestações artísticas que nos devolvem visões surpreendentemente belas, equilibradas e arrebatantes da realidade.
Em oposição a quem considera a arte fútil e inútil, quando vejo as multidões que acorrem a concertos, espectáculos e outras realizações criadas por gente capaz de ver e viver além da parca economia de sobrevivência, regozijo-me sempre com a eterna capacidade para sonhar e reinventar a realidade de que são capazes os artistas.
Toda a gente sabe que a arte não dá de comer porque o ouve repetidamente ao longo de toda a vida. No entanto, poucos são os que resistem ao arrebatamento de uma canção, de uma representação, de uma pintura, de palavras ditas e escritas.
É magia, sim, essa forma de comunicar com o que dentro de nós explode quando se encanta com uma peça artística. É magia essa coisa de pegar em sentimentos, objectos inertes, irracionalidades e transformá-los em coisas que fazem sentido, sendo embora intraduzíveis mesmo quando é nas palavras que desenrolam a beleza pela qual todos suspiram.
É magia essa capacidade de apelar com tanta autoridade ao que dentro de cada ser humano grita por algo mais.
O artista é o xamã que, com olho mágico, escrutina a alma e arranca dela ansiedades incontroláveis, desejos profundos, novas visões. Momentaneamente despojado das amarras materiais, mergulha no inconsciente colectivo como um caçador de pérolas para trazer à superfície minúsculas porções de riqueza.
Pode passar uma vida inteira sem o reconhecimento material do seu trabalho ou dos seus pares, mas dedica teimosamente toda a sua energia ao que é a sua função nesta vida. O seu trabalho aparentemente irracional e louco completa lacunas e é em geral tolerado. De vez em quando, censurado, porque também há quem nele intua a capacidade de uma arma. Não das que tiram vidas, mas das que a renovam e revolucionam.
Sem o peso do controlo humano que onera crenças e religiões, o xamã-artista circula quase livremente entre nós, contribuindo decisivamente para a contínua transformação de ideias e conceitos. É um visionário cujo rótulo de inutilidade é, de facto, o seu melhor escudo contra o controlo do estabelecido.