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domingo, 18 de novembro de 2018

já não tenho pesadelos

"the wild wild pink flock" by MMF
Já não tenho pesadelos. Agora só se manifestam fora dos sonhos, quando olho à minha volta e os reconheço pelo que são na realidade. Antes desta epifania havia uma zona de ninguém em que os pesadelos se manifestavam e, mesmo acordada, não conseguia situá-los na realidade, ou fora dela, porque a carga de sensações que provocavam era demasiado forte para determinar com clareza a sua origem.
Agora os pesadelos não cabem nos meus sonhos, que se tornaram inspiradores e cheios de pistas a explorar assim que os olhos se abrem. São uma espécie de aditivos que me facilitam as tarefas mais pragmáticas. Estou muito satisfeita com este upgrade mental e com a lucidez que me permite.
Os pesadelos continuam a sua existência, no dia-a-dia, mas já não me inspiram terrores. Pelo contrário, agora que os situo com exactidão, consigo entender de imediato que o que e quem os provoca vive numa dimensão de promiscuidade com o terror, sem qualquer espécie de controlo sobre o que aparentemente não deseja, mas praticando-o na mesma.
As pessoas têm imensa facilidade em sonhar. Mas são como um piloto inexperiente que não sabe tirar partido dos seus voos, nem como evitar os perigos que lhe aparecem pela frente. Acho, que pessoalmente, já acumulei horas de voo suficientes para localizar os pesadelos na sua área de acção e pilotar a minha vida para longe deles no que realmente importa.
Os pesadelos surgem da interacção com as pessoas que não entendem os comandos dos seus potentíssimos aviões e por isso estão sempre a aterrar as nas lixeiras e a arrastar a porcaria para a vida das pessoas com quem se cruzam.
Gostava muito que buscassem as lições que lhes permitissem voar pelos céus e não pelos inferninhos que criam. Para seu bem e para não conspurcarem o voo dos outros. Afinal, que dúvida ainda pode haver entre um voo limpo e aterragens perigosas no meio de lixeiras a céu aberto?
Por mim, fico bem sem pesadelos e até tenho pena de não me lembrar quando é que deixei de os ter, para poder celebrar o dia. Também tenho de corrigir os bugs do programa, porque constato que passou uma data de tempo entre esse acontecimento e a minha tomada de consciência. De futuro espero que a lucidez seja automática e traga de imediato os bónus correspondentes.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

ler traz felicidade

Desenho daqui

A leitura traz felicidade e isto não é uma afirmação vã. Basta pegar num livro quando estamos transtornados e começar um parágrafo para experimentar de imediato uma realidade diferente da que nos pôs naquele estado.
Quando não consigo meditar e, através dessa prática, readquirir o meu equilibro, leio. Ou desenho, ou pinto, ou ouço música. Às vezes vejo um filme. Algumas pessoas ligam a televisão e vêem novelas. Outras recorrem a palavras cruzadas, sudokus, grandes questões matemáticas ou da física. Ou numa mais corrente forma de concentrar a atenção como a jardinagem, a cozinha ou o arranjo de uma torneira.
Todos nós temos, sem nenhuma forma especial de aprendizagem, estas formas de nos concentrarmos numa tarefa que nos desliga de um momento difícil para nos mergulhar num outro espaço e tempo em que a realidade tem um ritmo e uma tonalidade muito mais apaziguadoras.
Não consigo meditar é uma expressão sem significado para quem tem consciência de todos estes pequenos instrumentos de acesso imediato à paz e à felicidade.
Ficar em sossego, bem sentado, a prestar atenção à respiração, ao movimento do ar que entra e sai do nosso corpo é tão bom como pegar num livro e mergulhar num outro espaço mental, ou cozinhar com atenção um prato que nos apeteça no sossego da cozinha.
É tão bom como ouvir um concerto e deixar que as emoções corram de vez com o nosso constante esforço para julgar tudo e todos à medida do que tão bem nos treinaram para fazer e tão mediocremente molda as nossas vidas.
Ler traz felicidade e contacto com o mundo dos outros. É o nosso veículo de transporte mental para vidas, viagens, sonhos e aventuras que existem em outras cabeças e que podemos partilhar instantaneamente.
Ler livros é uma obrigação quando tudo o resto que é preparado para nosso consumo se limita a pacotes de regras, leis e notícias cuidadosamente formatados para nos amargurarem a vida e nos manterem sob o efeito do medo, a droga mais mortífera e livremente traficada dos nossos dias.
Leio com consciência de que quem escreve produz uma diversidade e uma abundância de oportunidades a que dificilmente se tem acesso num mundo aparentemente desesperado e desertificado pela falta de ideias, de nobreza e de entusiasmo pela aceitação de outras formas de ver, sentir e pensar.
Fico mais feliz assim, sabendo que o que os livros me trazem são as ideias de quem vive mentalmente muito mais do que parece possível e que partilha comigo essa riqueza extraordinária.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

ai o amor...




Ai o amor, ai a rosa, ai, ai... E quando não é assim, assado também não queremos que seja, nem que saiba a rotina. Nada menos que estes arrobos apaixonados tão bem trabalhados pelos Mecano a propósito de um poema de Gertrude Stein (a frase Rose is a rose is a rose is a rose escrita no poema datado de 1913, Sacred Emily, publicado em 1922 no livro Geography and Plays).Amores intensos e de intensas condições, embora Stein só quisesse dizer que as coisas são como são, muito menos teatrais do que podem parecer na boca e nas canções inspiradas pelas paixões fulgurantes. Tudo isto a propósito do dia dos namorados que amanhã se festeja e para o qual preparei três cartões: um para a pessoa que me faz sonhar com arrobos românticos, com a felicidade partilhada e com a grande aprendizagem do amor incondicional; outros dois para duas pessoas que nasceram uma para a outra e tardam a reconhecê-lo, na esperança que o meu ilusionismo replique a intenção certeira de uma das setas de Cupido. Amores à parte, fica a sugestão para ocuparmos o nosso dia de amanhã com a hipótese de um cataclismo interior mais interessante que as cortinas de más notícias com que se subjugam pessoas menos propensas a deixar que a fantasia e o sonho guiem as suas vidas.